Flores, a "minha" ilha
Antes de começar a falar da “minha” ilha, tenho de ser sincera. Demorei meses a ter coragem para escrever este post. As razões são as mais variadas. É difícil escolher o essencial quando o geral não é o mais importante. Para mim, a ilha das Flores é um todo, de afetos, de paisagens, de memórias e recordações que me trazem, na maioria das vezes, sentimentos ambíguos. É árduo escolher os melhores lugares a visitar sem apresentar um post de um quilómetro, selecionar fotos quando acho que as imagens não mostram a essência desta ilha e optar por palavras para definir uma terra tão pequena e tão grande ao mesmo tempo que só o coração consegue absorver… mas como vos prometi em julho 9 posts, 9 ilhas… aqui fica o último:
Flores, a ilha das cascatas
Dizem os livros de história que lhe chamaram Ilha de São Tomás e depois Santa Iria. Mas, obstinada desde o início, foi ela que escolheu o seu próprio nome. A abundância de flores amarelas que revestiam toda a superfície da ilha não deixou margem para dúvidas, o nome desta pequena terra era desde o nascimento, Flores. Dos cubres restam apenas amostras, mas a denominação continua a fazer sentido. Nos meses de verão, as encostas e os vales cobrem-se de milhares de hortênsias de cor azul, que dividem as terras de mil verdes e dão outra cor às margens das ribeiras e lagoas.
E quem a visita é isso que vê. A beleza natural, autêntica e quase virgem de um pedaço isolado de paraíso no meio do imenso oceano atlântico. Uma terra tranquila, de 1001 cascatas, de piscinas naturais com temperaturas amenas, de fenómenos geológicos estranhos e de histórias de aventura e de encantar. Mas o mesmo isolamento que faz desta ilha uma das mais bonitas do mundo, é um pau de dois bicos.
Quem aqui vive é sortudo, mas é também sobrevivente. Sobrevivente ao peso de residir na fronteira mais ocidental da Europa, a meio caminho entre o continente europeu e o americano, entre tempestades que ora trazem chuva e vento, ora dão à ilha uma vegetação luxuriante. Os florentinos vivem permanentemente divididos entre as saudades dos que partem, a rotina que todos conhecem e as falhas difíceis de combater numa terra tão pequena. Aqui, não há hospitais, há apenas um centro de saúde e os casos mais graves são evacuados. Aqui, as grávidas têm de viajar para outra ilha um mês antes de ter os filhos. Aqui, muitos alimentos frescos teimam ainda em não chegar. Aqui, não há cinema, centro comercial, dezenas de restaurantes e cafés, milhares de pessoas. É verdade. Aqui, neste éden, ainda desconhecido por muitos portugueses, não há perfeição… mas está muito perto dela.
A SATA é a única companhia aérea a voar para as Flores e se viajares a partir do continente tens obrigatoriamente de fazer escala em pelo menos uma outra ilha. Consulta os preços aqui.
O que não podes perder:
Sete Lagoas
Entre as verdejantes matas - que os florentinos chamam de “mato” - vais encontrar sete crateras de vulcões tornadas lagoas. As minhas preferidas vêm em dose dupla porque a paisagem contempla as duas. São elas a Caldeira Negra e a Lagoa Comprida (na imagem), que ficam perto da freguesia da Fajã-Grande, e a Funda e a Rasa, perto da vila das Lajes.
Rocha dos Bordões – Este fenómeno geológico com cerca de 570 mil anos provoca muita curiosidade nos visitantes. O morro alto rodeado de “bordões” é o resultado da solidificação de basalto em altas estrias verticais. Se fores no mês de julho esta rocha vai estar ainda mais bonita pois enche-se de hortências que lhe dão uma tonalidade azul.
Poço da Ribeira do Ferreiro – Este local (primeira foto deste post) é também conhecido por Poço da Alagoinha, ou Lagoa das Patas. Mas o nome pouco interessa. A sensação, ao chegar aqui, é de ter encontrado o Éden. Uma lagoa onde desabam dezenas de cascatas rodeadas, com uma luxuriante vegetação de onde saem libelinhas e por vezes até patos. Para chegar aqui tens de fazer um trilho de cerca de 20 minutos, onde o único som que vais ouvir é o chilrear dos pássaros e o correr das ribeiras.
Miradouro Craveiro Lopes - Esta ilha é rica em trilhos e vistas magnificentes. O miradouro Craveiro Lopes é exemplo disso. Uma visão panorâmica sobre o vale da Fajãzinha, com o Poço da Ribeira do Ferreiro à direita e o mar em frente.
Fajã Grande
É das freguesias mais bonitas da ilha e a principal zona de veraneio. E para mim, tem também o pôr-do-sol mais bonito do mundo.
Ilhéu do Monchique – Junto à costa oeste da ilha encontra-se o ponto mais ocidental da Europa. Um rochedo oceânico que já foi ponto de referência para os barcos acertarem as rotas. Aproveita para o conhecer durante uma volta de barco à ilha com a Extremo Ocidente. Durante essa viagem podes também conhecer outros ilhéus, grutas, cascatas que desabam no mar e até quem sabe ser surpreendido por golfinhos.
Poço do Bacalhau
Queda de 90 metros de altura, que se despenha numa lagoa natural e convida a um mergulho que dificilmente irás recusar. Se gostas de ter como companhia adrenalina, aventura e emoções fortes aproveita para fazer canyoning com a West Canyoning que já vos falei aqui
Moinho da Fajãzinha – Aqui o milho ainda é moído como antigamente. Os locais levam o seu milho, pagam um x e levam a farinha para casa moída de uma forma artesanal. A senhora Fátima, que explica com todo o amor o processo de moagem a quem por lá passa, garante que o pão feito com esta farinha é 2mil vezes mais saboroso":
Mergulhar no Slavonia – A ilha das Flores é rica em spots para os amantes de mergulho. Um dos locais mais procurados fica ao largo do Lajedo. O navio inglês Slavonia é um dos 700 naufrágios que ocorreram nos Açores entre o século XVI e XX. Para marcares um mergulho fala com a Extremo Ocidente.
Piscinas naturais
Nas Flores, há apenas uma praia. Fica na vila das Lajes, mas, desculpem os lajenses, eu não gosto. Prefiro a zona balnear da Fajã Grande e as piscinas de Santa Cruz. Em 2017, foi inaugurada uma nova piscina natural nesta vila e da qual fiquei fã. Chama-se Piscina das Salemas, tem vista para a vizinha ilha do Corvo, mar cristalino, cheio de peixes coloridos, búzios e estrelas do mar.
Museu Fábrica da Baleia do Boqueirão - Aqui história da indústria baleeira é contada através de fotografias, registos e memórias da época. A minha parte preferida foi os testemunhos dos mestres baleeiros que contam em vídeo momentos da fauna.
Farol do Albernaz – É o Farol mais Ocidental da Europa. Foi inaugurado em 1925, está localizado na deslumbrante falésia de Ponta Delgada e tem uma ampla vista para o Corvo. Se o faroleiro de serviço estiver disponível mostra a torre de 1.95 metros e explica a história do edifício, assim como algumas curiosidades sobre o mar dos Açores.
Alagoa
Entre a Fazenda de Santa Cruz e os Cedros existe uma estreita estrada que nos transporta para uma paisagem deslumbrante. Nesta pequena baía, além da vista, tem um parque de campismo e uma cascata.
Onde e o que comer:
Restaurante Pôr-do-Sol – Neste espaço, localizado na freguesia da Fajãzinha, podes deliciar-te com a comida típica da ilha enquanto observas um dos mais bonitos crepúsculos de Portugal. A entrada é constituída por bolo do tijolo (típico dos Açores), doce caseiro, queijo da ilha e torresminhos. Quanto aos pratos principais, aconselho a linguiça com inhame, o feijão assado no forno de lenha, morcela com batata doce e as tortas de erva-do-calhau (algas).
O Pescador – Neste restaurante da freguesia de Ponta Delgada há sempre peixe e marisco fresco. Os filetes de peixe-porco, o bife de tubarão e o cavaco são os pratos mais procurados.
Onde dormir:
Aldeia da Cuada – Aldeamento turístico onde o tempo parece parado. Recorda o post que escrevi sobre este alojamento aqui.
Hotel Flores – Ótima opção para quem quer uma estadia mais luxuosa. Este hotel de quatro estrelas do Inatel tem uma vista encantadora para o Corvo, uma piscina infinita, ginásio, restaurante e sala de jogos.
Festas:
Festas do Espírito Santo – Sete semanas depois da Páscoa, realizam-se uma das principais festas religiosas dos Açores. Há missas e procissões em homenagem à terceira pessoa da Santíssima Trindade e dão-se “sopas de carne” para pagar as promessas feitas em momentos de aflição.
Festa do Cais das Poças – É, neste momento, a melhor festa da ilha. Realiza-se na vila de Santa Cruz no primeiro fim de semana de agosto.
Bailaricos – Todos os fins de semana, de junho a setembro, há festas populares pelas freguesias da ilha. Há bailarico e tascas com comes e bebes.
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