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Perdida por Lisboa

A capital (e outros destinos) pelos olhos de uma açoriana...

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26 de Agosto, 2017

São Jorge, a ilha das fajãs

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São Jorge foi a nossa terceira paragem. Apanhamos um barco da Atlântico Line, em São Roque, na ilha do Pico, às 19h30 e chegamos às 20h20 ao porto das Velas. Depois de apanharmos o carro que alugamos na rent-a-car Oásis (são 5 estrelas e não é necessário cartão de crédito) só pensávamos em comer. Contudo, pelo caminho para o Fornos de Lava (falo mais a baixo), tivemos mesmo de parar! Nunca mais me vou esquecer daquela vista e daquele pôr do sol esplendoroso! Nenhuma foto faz jus aquela beleza... mas deixo-vos aqui uma amostra...

 

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Apesar das fajãs serem comuns no arquipélago, é nesta ilha que estes acidentes geográficos, com uma montanha de um lado e o mar do outro, são em maior número...São mais de 70 fajãs onde, na maioria delas, a beleza é tão grande como inacessível. Os carros só nos levam até determinado ponto, num caminho de curvas e contra-curvas que muitas vezes amaldiçoei, as botas de montanha são aconselháveis e a água mineral foi a nossa melhor amiga. Mas, vale mesmo a pena! A natureza está intocável, o mar e o céu cruzam-se num só com o Pico sempre a espreitar no horizonte e os segredos guardados nestas paisagens virgens deram-nos uma experiência inesquecível.

 

O que vimos em 2 dias:

Dia 1

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Fajã da Caldeira do Santo Cristo - É a fajã mais afamada de São Jorge e o seu ex-líbris. Para lá chegar pode escolher dois caminhos: a partir da Fajã dos Cubres (1 hora para cada lado) ou a partir da Serra do Topo que dizem ser o caminho mais bonito, com uma cascata pelo meio, mas também o mais longo e mais duro. Ah! Estamos a falar de caminho feito a pé. É que nesta fajã não entram carros. Os únicos veículos motorizados que entram são motas de quatro rodas, com horas estabelecidas e, normalmente, só para levarem carga.

 

Nós escolhemos o caminho mais curto. E, verdade seja dita, chegamos mortas. Contudo, quando começamos a ver este postal onde a natureza se encontra no seu estado mais puro, onde de um lado temos mil verdes e do outro uma lagoa separada por uma pedras do oceano... ficamos sem palavras. A paz de um lugar tão remoto, onde existe apenas um café, onde já viveram mais de 200 pessoas mas hoje não passam de 10, onde se ouvem os pássaros, o mar a bater nas rochas e, de vez em quando, um "bom dia" ou "boa tarde" é indescritível...só vivendo...

 

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Se tivéssemos mais tempo em São Jorge gostaria de ter pernoitado aqui. Nesta fajã há um Surf Camp (Site Caldeira Guesthouse & Surfcamp) com paddle e surf e... muitas histórias para contar. A Igreja de Santo Cristo é disso exemplo. Foi erguida no século XIX e é, ainda hoje em dia, um dos principais locais de culto dos jorgenses. Reza a lenda que foi construída depois de um homem ter encontrado uma imagem do Senhor Santo Cristo a boiar nas águas da lagoa. O homem terá levado a imagem para sua casa, mas no dia seguinte esta voltou a aparecer na caldeira. Esta situação terá acontecido durante vários dias até que o jorgense decidiu construir uma igreja em honra do Senhor Santo Cristo e colocar a imagem no seu altar de onde esta nunca mais saiu.

 

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Envoltas em mistério estão também as amêijoas que começaram a aparecer na lagoa da fajã, há mais de 100 anos, e ainda hoje não se sabe como e quem as introduziu. O que se sabe é que são deliciosas e que pode provar esta iguaria no único café da fajã, o Café Borges. Aqui há também meia dúzia de pratos rápidos, mas leve dinheiro que o multibanco teima em não funcionar. No fim deixe uma memória da sua passagem no tecto do café.

 

Fajã dos Cubres 

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Apesar da Fajã da Caldeira do Santo Cristo ter um misticismo difícil de explicar, a Fajã dos Cubres foi a minha preferida (foto acima e primeira foto deste post). É calma, exótica, lindíssima e com várias lagoas por onde pode passear. É também ideal para os amantes da observação de aves. Não é por isso de estranhar que esta Fajã seja uma das finalistas das 7 maravilhas de Portugal, categoria aldeias do mar.

 

Fajã do Ouvidor

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Esta fajã é um dos principais locais de veraneio da ilha devido às suas encantadoras piscinas naturais com águas límpidas e temperaturas amenas. A poça Simão Dias e a poça do Caneiro são as mais requisitadas. Nós optamos pela Simão Dias e não nos arrependemos. Uma piscina super calma, com água transparente, muitos peixinhos e um recorte encantador.

 

Espécies – E porque o mar dá fome, quando saímos da piscina passamos num café para provar as Espécies, um bolo típico da ilha à base de especiarias (daí o nome) como erva-doce, pimenta, canela, noz moscada, etc. Confesso que me fez um bocadinho de espécie. Mas uma das minhas amigas gostou. Pode experimentar em todos os cafés e lojas da ilha.

 

Dia 2

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Café Nunes - A Fajã dos Vimes guarda um segredo que está cada vez menos escondido: o único café produzido na Europa. São cada vez mais os turistas que vêm a esta fajã à procura do Café Nunes, ou o Café da Fajã. De acordo com o Senhor Nunes, que está atrás do balcão a servir esta preciosa bebida há cerca de 20 anos, algures no século XIX um jorgense voltou do Brasil com uma planta de café. A árvore prosperou no microclima desta fajã e espalhou-se por muitos dos habitantes desta ilha. Contudo, na década de 80, com  a vulgarização dos cafés, perdeu importância e apenas a família Nunes continuou a plantar, apanhar, torrar e moer o café que hoje servem no seu estabelecimento. O café é do tipo arábiaca, tem um aroma intenso e custa 1€. Parece caro, mas vale mesmo a pena.

 

Fábrica das conservas de Santa Catarina – Desculpem as outras fábricas de conservas, mas estas são realmente as melhores. Já não se fazem visitas à fábrica, mas ao lado desta existe um quiosque onde se vende atum de todas as formas e mais algumas. Há atum com pimenta da terra, com molho cru (molho açoriano), com batata doce, com gengibre, tomilho, caril, manjericão e por aí fora. 

 

Queijo da Ilha

 

O Queijo da Ilha é um dos cartões de visita de São Jorge. Por toda a ilha há fábricas de lacticínios que pode visitar para saber como é feito o queijo. Escolhemos a Cooperativa da Beira e gostamos muito. Ficamos a saber que a receita desta iguaria tem origens no século XVI e muitos outros pormenores (além de tirarmos uma foto todas equipadas como podem ver acima haha ). No fim aproveitamos para comprar queijos e doces na loja da Cooperativa.

 

Velas –  É a maior vila de São Jorge. Foi construída à volta do porto e no centro vai encontrar uma das praças mais bonitas do país. O Jardim da Praça da República está bem tratado e é ideal para ter interessantes conversas com os locais ao final do dia. No seu centro tem um coreto vermelho e uma gaiola com pássaros e à sua volta vários cafés onde pode beber uma Kima fresquinha.

 

O que gostaríamos de ter feito também:

Ponta dos Rosais – Tentamos visitar esta zona, no extremo noroeste da ilha, no nosso segundo dia, mas a chuva e o nevoeiro impediram-nos. Dizem que desta ponta, que tem um misterioso farol abandonado, vê-se várias ilhas. O trilho deve ser feito ao pôr do sol para dele tirar melhor partido. Aqui localiza-se também uma das principais zonas para a observação de aves marinhas e o Parque Florestal das Sete Fontes, onde se pode observar várias espécies endémicas como as criptomérias e as azáleas.

 

Torre sineira abandonada – A erupção de 1808 destruiu grande parte da povoação, mas deixou intacta a torre de uma igreja que até hoje permanece ali misteriosa e fantasmagórica.

 

Topo – Antiga vila, com pitoresco porto de pesca onde desembarcou Willem van der Hagen, responsável pelo início da povoação da ilha. O ilhéu do Topo, em frente à vila, é uma das zonas e de pastagem mais ricas e onde o gado chega a nado.

 

Pico da Esperança – É o ponto mais alto da ilha e oferece e uma vista panorâmica sobre as outras ilhas do grupo Central.

 

Canyoning – Tal como já falei aqui, São Jorge é dos melhores locais do País para praticar esta atividade. As arrebatadoras cascatas e as verdejantes montanhas proporcionam uma simbiose perfeita entre natureza, aventura e águas cristalinas (Discover Experience Açores).

 

Onde comer

Fornos de Lava 

 

Apesar das mãos que cozinham neste restaurante serem de um galego, é comida tradicional, confeccionada com produtos locais e cozinhada num forno de lenha, que aqui é servida. De sublinhar o peixe fresco e a qualidade das carnes (Facebook). Adoramos o espaço, a vista e o atendimento.

 

Maré Viva – Reabriu em maio deste ano e é um dos restaurantes com melhor vista do arquipélago. Fica na Fajã das Almas e tem vista para a vizinha ilha do Pico (mais info).

 

Onde dormir

Pousada de São Jorge – Nós escolhemos este alojamento na Calheta por ser o mais barato e, por essa razão, ficamos surpreendidas pela simpatia e pelas condições que esta pousada tem. Os quartos são ótimos, a decoração é simples e juvenil, há um bar com matraquilhos, wi-fi, computador e muitos livros sobre a ilha e o arquipélago. (Facebook)

 

Quinta de São Pedro – Nesta quinta, onde o silêncio só é quebrado pelo chilrear dos pássaros, ou pelo som das ondas, pode pernoitar e relaxar nas camas de rede com vista para o Atlântico (Facebook).

 

Bunganvílias – Além dos quartos, este cantinho oferece aos hóspedes uma piscina com vista para a vizinha ilha do Pico e um pequeno-almoço preparado com produtos locais (Facebook).

 

Festas

Semana Cultural das Velas – É uma das maiores festas da ilha e decorre no início de julho.

Festa dos Rosais – Realiza-se na segunda semana de agosto.

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